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terça-feira, 21 de setembro de 2010

Pó do mesmo chão

No mundo espiritual há uma hierarquia absoluta: Deus tem o domínio pleno sobre todas as coisas, mas na esfera material a hierarquia é limitada, pois esta superioridade condiz apenas no sentido ocupacional, nos cargos que se ocupa durante o breve tempo de vida sobre esta terra.
Todos os cidadãos estão sujeitos a muitas imposições, cercados de obrigações e deveres que independem da força de vontade, restando apenas o cumprimento legal, é o caso do pagamento de impostos. Na política, por exemplo, as forças do poder são notórias, uma vez que tais ocupações também geram uma série de responsabilidades, dando margem a cobranças impostas pelo povo. No âmbito religioso também não é diferente, as ovelhas são conduzidas pelos pastores e devem respeito à liderança. Na área familiar pode-se notar certo grau de superioridade não só dos pais em relação aos filhos, mas a grosso modo, dos idosos em oposição aos mais jovens, além da responsabilidade que é devida ao marido, a fim de que assuma a postura de sacerdote do seu lar. Porém, os que lideram suas áreas delimitadas não podem esquecer que todos estamos abaixo de uma ordem infinitamente superior: a Lei de Deus.
Ter uma condição superior em relação à outra pessoa não quer dizer que se possa massacrá-lo, nem tão pouco sobrepujá-lo ao servilismo de interesses próprios. O respeito à dignidade humana, além de amparado pela Constituição Federal, é uma das características marcantes da personalidade divina, pois até Deus respeita suas pobres criaturas e por isso as criou com peculiaridades próprias, dando-lhes o livre arbítrio.
Os filhos devem obedecer aos seus genitores, mas a Bíblia, no livro de Efésios, capítulo 6, versículo 4, também adverte aos pais. Os deveres são mútuos: “E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor.”. Em Colossenses 3, no versículo 21 também há outra advertência: “Vós, pais, não irriteis a vossos filhos, para que não fiquem desanimados.”
O elogio é uma arma eficaz de ânimo que pode ser explorada pelas pessoas, faz com que o estímulo seja gerado nos corações, além de massagear os sentimentos e estreitar os relacionamentos, principalmente com as pessoas mais próximas do nosso convívio cotidiano.
Sobre este chão somos todos iguais, temos sentimentos que precisam ser respeitados, choramos, sofremos, sorrimos, dormimos, etc.
Será que, uma casa bonita, móveis perfeitos, carro novo, vida social, dinheiro, etc. justificam a falta de cuidado espiritual para com os filhos? Deixá-los sob os cuidados das trevas? No tempo certo o Senhor há de cobrar dos pais a falta de zelo pelos pequeninos: “Portanto, amem o SENHOR, nosso Deus, com todo o coração, com toda a alma e com todas as forças. Guardem sempre no coração as leis que eu lhes estou dando hoje e não deixem de ensiná-las aos seus filhos. Repitam essas leis em casa e fora de casa, quando se deitarem e quando se levantarem. Amarrem essas leis nos braços e na testa, para não as esquecerem; e as escrevam nos batentes das portas das suas casas e nos seus portões.” (Dt 6.5-9).

quarta-feira, 28 de julho de 2010

BAIÃO DE TRÊS COM BRIDA

Após seis anos em Rondônia, vivendo as quatro estações bem definidas (verão, quentura, fervura escaldante e brasa pura), o frio resolveu sair da hibernação e dar o ar de sua graça, deixando os termômetros atingirem uma baixa temperatura.
Acostumado com o clima Sul-Matogrossense, justamente nesse período aconteceu o meu casamento, trazendo à tona uma atmosfera saudosista, fazendo as lembranças reviverem na memória os dias frios presenciados em Campo Grande, quando era necessário buscar vestígios de sol por entre as brechas das nuvens espessas. A fumaça que saía da boca misturava-se ao mormaço causado pelo capuccino que era saboreado na Escola Latino Americano. A cena se repetiu, mas agora tendo como cenário a cidade de Vilhena que era castigada pelos cinco graus centígrados. O mês de julho foi marcado pelo vento cortante que pairava na rodoviária, atingindo em cheio o rosto juvenil da minha esposa Carina. Deus estava abençoando nossa viagem à cidade morena a fim de deixar a lua de mel com um toque Parisiense, muito mais aconchegante por entre os edredons.
Não há como esquecer das comidas típicas nordestinas: o baião de dois e a tapioca, preparadas com muito esmero pelas mãos delicadas da minha mãe que nos recebeu de braços abertos e coração saltitante, enquanto os latidos estridentes da Brida entrecortavam a garagem. A batata recheada da Barraca do Paraná, o Milk Shake de maracujá (novo sabor do Bob’s), o capuccino vienense, o rodízio de carnes da Nossa Querência, o rodízio de pizzas e o salpicão de frutas da Martignoni, o churrasco regado à costeleta de porco, linguiça apimentada da matel e pão de alho preparados pelo primo Borba, a castanha do Pará e a geleia do Mercado Municipal, as idas às lojas Americanas e Pernambucanas, assim foram marcados os dias de férias, regidos pela alegria contagiante que apimentava nossa união e tudo isso ao som do xote santo que tocava sem parar na rua Machado de Assis.
Diante de tanta festa só resta agradecer a Deus por ter proporcionado tudo isso e manter acesa a chama viva da memória que guarda trancafiada essas lembranças eternas.

terça-feira, 1 de junho de 2010

NAS TRILHAS DO AMOR

Posso dizer que o encontrei. Sei que estou na trilha certa e algumas dicas de poetas e compositores me trazem reflexos daquilo que sinto e não sei explicar.
Djavan, menciona: “O amor é como um raio galopando em desafio, abre fendas, cobre vales, revolta as águas dos rios”. Jorge Vercilo, por sua vez, diz: “Eu quero ver o invisível, prever o que está no ar, como previ meu futuro ao lhe ver passar”. Como se não bastassem esses trechos, descrevo na íntegra dois lindos poemas: “Amar assim, de Vitor Martins e “Sopro de amor”, do letrista Lula Queiroga. Eles falam por mim.

Amar assim

Me emociona o seu carinho, inicio de redemoinho
E voce vira minha dona
Uma gazela, uma amazona
Me cavalgando no cio
Transbordamento de rio
Uma araguaia, um tocantins
Eu sempre quis amar assim
Sem começo e sem fim...

Me emociona o seu carinho
Amor que vem da natureza
É agua fresca, divina
Que escorre por entre os dedos
Molhando o peito e a camisa
Derramamento de vida
Uma araguaia, um tocantins
Eu sempre quis amar assim
Sem começo e sem fim....

Sopro de amor

Aonde o sopro do amor irá guiar os meus passos?
Aonde que não na direção dos teus braços
Aonde pode a canção raiar com toda a grandeza
Senão nos olhos de quem retém sua beleza?
Às vezes, meu sentimento toma diversas feições
E a voz desses corações vira música e desperta
Mas eu não posso conter a correnteza de mim
É tão mais forte, mais que eu indo de encontro a ti
E eu não quero mudar o rumo da correnteza
Dentro do peito, é bom manter a emoção ilesa.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

VERMELHO QUE TE QUERO BEM

A humanidade, o universo e sua dimensão, tudo o que existe nos céus e na terra foram criados por Deus, inclusive as cores e seus significados.
Se o azul é mencionado, por exemplo, logo as visões de céu e mar tornam-se alvo da imaginação e sua conotação traz à tona outros elementos; já o verde é capaz de transportar os sentimentos contemplativos ao berço da natureza, deitando o olhar na esperança da preservação da terra. O preto liga-se à escuridão pelos laços da morte que arreganha seus dentes carregados de pavor. Daí a atitude do luto, uma pura demonstração de dor causada pelo abismo da separação. Na mesma matiz escura, outros reflexos tornam-se agregados: a escravidão, o sofrimento, a saudade, o medo, o pecado, o inferno. Já em outras nuances extremamente opostas surge o branco, símbolo da paz, purificação, castidade e alvura dos pensamentos nobres.
Sabendo que toda aquarela pode ser encaixada nesse momento reflexivo, quero me aprofundar na esfera do vermelho, a tonalidade mais viva e intensa de todas. No âmbito terrestre há muitos vestígios de sua vitalidade. Os sentimentos humanos são pintados com sua cor vibrante. A paixão, por exemplo, tão avassaladora, carrega em seu âmago a força de tal naipe, apresentando seu perfil nos casos extremos de entrega ao delírio causado por seus estragos. O desejo é outra fonte que advém do mesmo nascedouro, é como um chafariz que nunca cessa, jorrando sua cor escarlata de forma intensa. A libido também não poderia deixar de ser mencionada, caracterizada como uma energia aproveitável para os instintos da vida, apresentando-se como característica fundamental no campo da atividade sexual, vinculada aos aspectos emocionais e psicológicos. Há também o sangue que circula nas veias, seiva primordial que mantém acesa toda a pulsação do coração, movendo-o entre a sístole e a diástole, regendo a cadência rítmica da existência.
Há um sangue que merece destaque especial: o de Jesus Cristo. Esse é a razão de toda a plenitude, ponte para romper as barreiras do tempo, rumando para os braços da eternidade. Nele há necessidade de se lavar, encharcar-se na pureza da sua bondade, na graça carmesim aspergida pela humanidade. Sua tonalidade é incomparável, obra preciosa de Deus, tinta viva que jamais desbota. Esse elemento é primordial, através dele uma multidão de pecados são lançados no esquecimento, apagando todas as mais terríveis transgressões. Assim confirmam alguns textos bíblicos: “Pois isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança, o qual é derramado por muitos para remissão dos pecados.” (Mateus 26:28); “Mas Deus prova o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira.” (Romanos 5:8-9); “Mas, se andarmos na luz, como Ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus seu Filho nos purifica de todo pecado.” (I João 1:7).
No arco-íris do meu sonho contemplo o vermelho, cor bendita que se apodera da alma, arrebenta as retinas que vislumbram sua majestade.

terça-feira, 25 de maio de 2010

HÁ UM FRANGO QUE DEIXA O HOMEM EM FRANGALHOS

No artigo anterior começou a análise filosófica a respeito do passado, tendo a figura do frango como ilustração para uma maior compreensão, mas toda essa análise ainda não chegou ao fim, faltando agora a reflexão sobre o frango mais difícil de morrer: o da área sentimental.
Ao atravessar a fase da inocência, deixando a ingenuidade para trás, toda humanidade começa a viver para construir sua granja, a fim de empoleirar seus desejos. Nesse ambiente as vasilhas estão sempre cheias de água fresca, os arames reforçados para que não haja fuga, a quirera é jogada com carinho para proporcionar-lhes uma alimentação saudável, então quando a tarde cai e elas começam a se ajeitar para dormir, é momento de ficar do lado e fora, só admirando o crescimento das aves.
Vez ou outra, quando a fome aperta, surge a necessidade de transformá-los no prato principal, então sem nenhum resquício de mágoa, é hora de abrir a porta da granja, arrastar qualquer um pelo pescoço e levá-lo para o abate. Mas dentre eles, há um que possui cuidados especiais, é nutrido com grãos selecionados, água mineral no recipiente de prata e dormitório cinco estrelas, proporcionando maior conforto para um desenvolvimento de qualidade. Os outros são raquíticos perto de sua pompa. Essa é tratada como ave de estimação, seu nome é afetividade. Descarta-se qualquer possibilidade de levá-la para o almoço, pelo contrário, a intenção é deixá-la ali, sempre viva, exposta como uma roupa de gala na vitrina. Enquanto os outros vão sendo levados ao fogo, entre marinadas em suco de laranja, mel e gengibre, esse permanece reinando no poleiro, ostentando sua postura de destaque, com suas penas brilhantes, assim como um pavão em tempo de carnaval.
Quando Jesus surge nessa história, aí vem o grande confronto. Sua presença gloriosa faz com que todas as sombras do passado passem a ter a mesma insignificância, então todos os frangos se igualam e precisam se tornar em saborosa comida quente na panela de barro. Um novo altar é levantado e a granja vai abaixo. Jesus Cristo é o comprador que chega até à fazenda e propõe pagar um preço muito alto para possuir toda a propriedade. Às vezes queremos vender apenas uma parte da terra e deixar a granja fora do negócio. Mas quando Ele chega não tem meio termo, em Seu contrato há apenas uma cláusula: entrega total dos bens.
Portanto, quando a vontade de requer o frango do sentimento bater a sua porta, caro leitor, lembre-se: Jesus já o levou e isso não pode mais lhe atormentar. Essa compreensão precisa ser fortalecida na consciência, a fim de que ele não se transforme em um galo sem relógio que canta a qualquer hora, em qualquer lugar.

MATANDO O FRANGO

O Criador absoluto de todas as coisas, em sua infinita misericórdia, resolveu se revelar ao homem através da morte e ressurreição do seu filho amado, Jesus Cristo, bem como manifestando a sua vontade evidenciada na Bíblia, mas também tem usado homens e mulheres como canais de bênçãos sobre a terra. Assim ele o fez quando permitiu que alguém me trouxesse uma realidade tão evidente, porém em uma frase aparentemente tosca e rudimentar: “Você precisa matar o frango”. Tal expressão ficou martelando meus neurônios durante dias e a compreensão exata dessa comparação trouxe um ensinamento valioso que precisa ser colocado em prática, mas não é tão simples assim.
No Evangelho de João, capítulo 3, versículo 3, há um processo que desencadeia a libertação, isso acontece quando alguém entende que está terminantemente perdido, enlaçado nas tramas do pecado, gerando arrependimento por tais práticas, trazendo o entendimento sobre a aceitação da pessoa de Jesus Cristo como libertador de sua alma. Então, o Espírito Santo, aos poucos, com sua faca amolada, começa a decepar definitivamente a cabeça da ave, cortando a raiz contaminada do passado: “Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”.
Esse novo nascimento precisa acontecer dia após dia, na dura jornada sobre a terra, numa atitude de renegação constante aos prazeres que outrora traziam escravidão. Aos poucos as trevas vão se dissipando, a palavra de vida eterna, com letra escarlata, começa a ser escrita nas tábuas do coração e a mente renovada passa a refletir atitudes nobres.
A boca de Deus, em II Coríntios, capítulo 5, versículo 17, declara: "Assim que se alguém está em Cristo, nova criatura é, as coisas velhas já passaram eis que tudo se fez novo”. Isso faz lembrar que o frango já foi destrinchado e que permanece imóvel sobre o chão, mas há momentos em que ele insiste em voltar a viver e, por vezes, como uma cena horrenda de terror, pode-se ouvi-lo cacarejar, caminhando sem cabeça no quintal de casa. Algumas pessoas esquecem que o animal já foi morto e tentam trazê-lo de volta, então passam a querer mantê-lo bem nutrido em sua granja. Aí mora o perigo, antes mesmo do sol raiar ele já começa a bater as asas, sonhando em ser um galo robusto.
Não há como se livrar totalmente da sombra espessa do passado, mas sua força pode ser anestesiada pela nova caminhada de fé e embora essa luta desenfreada entre a carne e o espírito nunca cesse, vencerá quem estiver sendo mais bem alimentado.

DRIBLANDO AS ADVERSIDADES

A força do nordestino é um dom peculiar ofertado por Deus para que os obstáculos (que não são poucos) sejam ultrapassados. O bom humor, a criatividade e a ousadia são algumas da armas fundamentais para se alcançar à vitória.
Como explicar essa vitalidade, capaz de suportar os inúmeros flagelos que assolam a região do cangaço? Seca, miséria extrema, educação escassa, falta de oportunidades, preconceitos, empregos mal remunerados, desequilíbrio econômico, etc... São apenas alguns exemplos de adversidades que se alastram entre essa gente, no entanto, é dessa região tão precária que surge boa parte da cultura nacional consistente. Luiz Gonzaga, por exemplo, exímio compositor pernambucano, tornou-se um pilar da história da música brasileira, revolucionando o baião, um ritmo nordestino que assumiu proporções jamais imaginadas; Antônio Gonçalves da Silva, mais conhecido como Patativa do Assaré, poeta e compositor cearense, analfabeto, sem jamais ter aperfeiçoado suas técnicas literárias através de artifícios academiscistas, saiu do anonimato para se tornar um exemplo de personalidade importante para a memória da cultura brasileira; autores da rica literatura brasileira, como é o caso do alagoano Graciliano Ramos, através da obra “Vidas Secas”, da cearense Rachel de Queiroz, com “O quinze”, do paraibano José Américo de Almeida, no clássico “A bagaceira” e Euclides da Cunha, que mesmo sendo carioca fez questão de descrever a força do sertanejo baiano, na obra “Os sertões”, demonstraram a descomunal capacidade desse povo em conseguir ultrapassar seus próprios limites de resistência.
O humor também é um artifício que o nordestino sabe explorar como ninguém, usado como uma válvula de escape para poder ofuscar os problemas que precisa enfrentar no cotidiano. É o caso dos humoristas Renato Aragão, Chico Anysio, Tom Cavalcante, Tiririca, Falcão, além de vários repentistas e outros que fazem do riso uma forma de disfarçar a dura realidade.
O sofrimento impulsiona as pessoas a saírem do estágio de letargia para alçar vôos outrora inatingíveis, provando que a capacidade humana vai muito além daquilo que se imagina. Segundo menciona o nordestino Djavan, em uma de suas composições: “Do nada também se nasce uma flor, com todo o seu poder de coloração e magia”.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

REMOVENDO AS ESCAMAS

Que sentido tem acordar todos os dias? Qual a graça de viver nesse mundo? Esses são alguns dos questionamentos que têm feito as pessoas perderem algumas características peculiares de humanos, deixando os sentidos e sentimentos amortizados numa atmosfera de puro desencanto pela vida, tornando os dias da existência numa velha roupa desbotada pelo tempo.
O desassossego tem sido o maestro do século XXI, a cadência rítmica que rege a pós-modernidade é a pressa agonizante da busca frenética pelo sucesso e nesse compasso febril as almas vão se enferrujando, desprendendo-se do sonho de Deus: a contemplação de sua criação e o propósito de adorá-lo. As famílias estão esfaceladas e já não podem realizar suas refeições com todos os membros unidos, pois a televisão, o computador e outros aparatos tornaram-se agregados a esse convívio, muito mais importantes que os laços sanguíneos, roubando a cena da comunhão. Os elementos da natureza já não fazem a menor diferença, tornaram-se comuns demais para serem apreciados. Por que motivo admirar o entardecer, andar descalço sobre as areias da praia, vislumbrar a lua cheia e todo seu mistério, se todas as noites ela está ali? Tomar um banho de chuva e apreciar o canto dos pássaros, sentir o frescor do vento desarrumando os cabelos, notar a beleza dos beija-flores e todo seu caso de amor com elas, tudo isso não passa de uma tremenda perca de tempo. Há mais coisas para se fazer, terras para conquistar, cartões de crédito para adquirir, carros importados para comprar, academias para modelar o corpo, viagens para realizar. O arco-íris que deixe para surgir outro dia, hoje não há tempo de contemplá-lo e as borboletas que aterrizem em outro local, agora os ombros não podem lhes servir de pouso. Se Deus quiser um pouco de atenção terá que esperar um outro momento.
Se todas essas coisas evidentes são esquecidas, quem dirá o sacrifício de Jesus na cruz do calvário! A humanidade está cega, tateando os muros caiados da existência, andando de forma trôpega, cambaleando pelas veredas da indiferença. A insensibilidade é o tempero que está sendo despejado nos pratos atuais, uma comida insossa que empapuça o desejo de se alimentar. Sem Deus os dias são sempre iguais, monótonos e medíocres, uma forma mecânica e opaca de continuar as trilhas tortuosas dessa estrada que parece não levar a lugar algum, então tudo passa a se resumir em acordar, comer, vestir, dormir e continuar caminhando a esmo, apostando na sorte de algum dia encontrar algo onde se possa repousar a cabeça e ali ficar até morrer ordinariamente.
Só há uma forma de fazer os olhos voltarem a brilhar, lançando as escamas ao chão: aceitando a Cristo como Salvador da sua vida. Com Ele, tudo passa a ter sentido, descobrindo que Sua essência é de pura criatividade e improvisação. Essa atitude traz renovação, vontade de respirar o eterno, desejo de soltar o riso frouxo da pura alegria, derretendo o gelo do coração e perfumando os dias. Com essa companhia gloriosa do Senhor, o relógio trabalha compassadamente, os relacionamentos são estreitados pela força do amor, as palavras adoçam a boca, a bússola volta a mostrar a direção certa, o fim do novelo, o céu.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

HERÓIS EM TERRA ESTRANHA

Você já ouviu falar em Eliane Elias, Toninho Horta, Romero Lubambo, Naná Vasconcelos, Cláudio Roditi, Flora Purin, Luciana Souza ou Oscar Castro Neves ? Nem tampouco sabe de onde eles são? Não tem problema, a grande maioria dos brasileiros também não sabe.
Eliane Elias é uma pianista , compositora e cantora, que em 1981 mudou-se para os Estados Unidos, convidada pelo baixista Eddie Gomezpara preencher a vaga de tecladista na banda Steps Ahead, grupo integrado também pelo baterista Peter Erskine e o já falecido saxofonista Michael Brecker. Desde então, sua carreira tem se consolidado entre os gringos que souberam valorizar o seu talento. É considerada uma das mais importantes pianistas de jazz, destacando-se pela mistura desse gênero com a música brasileira. Sobre sua performance ao piano, afirmou Herbie Hancock: “Ela toca tão lindamente que me faz chegar às lágrimas. Eu adoro as harmonias que ela utiliza; Toninho Horta, por sua vez, é guitarrista, violonista e compositor que, a partir de 1990 passou a residir em Nova York, onde travou intensa amizade com o guitarrista americano Pat Metheny. Ainda nessa década, excursionou por vários países, como Inglaterra, Rússia, Japão, Coréia, Finlândia, Eslováquia, Eslovênia, Croácia, Itália, Holanda, Bélgica, Suíça, Áustria e Estados Unidos. No exterior, participou ainda de shows e gravações com inúmeros artistas, entre eles: Pat Metheny, George Duke, Manhatan Transfer, Orquestra de Gil Evans, Joe Pass, Paquito D’rivera e Wayne Shorter. Com vários discos lançados no exterior, em países como Estados Unidos e Japão, construiu uma sólida carreita internacional; Já Romero Lubambo é guitarrista, violonista, compositor e arranjador, que em 1985 foi morar nos Estados Unidos e lá consolidou sua carreira. Acompanhou, em palco e estúdio, diversos artistas, como Dianne Reeves, Michael Brecker, Paquito D’rivera, Grover Washington Jr., James Carter, Dave Weckl, entre outros, registrando seu nome entre os grandes representantes do jazz; Naná Vasconcelos está conceituado como um dos melhores percussionistas do mundo, com sua carreira solidificada nos Estados Unidos, tendo se apresentado ao lado do violonista Jean-Luc Ponty e do guitarrista Pat Metheny e marcando presença nos palcos europeus (Alemanha, França e Suíça); já o trompetista Cláudio Roditi, mudou-se para os Estados Unidos, em 1976. Entre 1987 e 1992, viajou pelo mundo como solista da United National Orchestra, liderada por Dizzy Gillespie. Já fez parte da Big Band de Slide Hampton e continua fazendo sucesso no exterior; a cantora Flora Purim, que foi considerada a melhor cantora de jazz, pela revista “Downbeat”, em votação de críticos e leitores, tendo se mantido nessa posição durante mais cinco anos, reside nos Estados Unidos, desde 1969 e já se apresentou ao lado de Chick Corea, Stanley Clarke, Carlos Santana, Gil Evans, Joe Sample e Dizzy Gillespie; por sua vez, Luciana Souza é cantora e, desde 1999, reside no exterior. Seu CD “Brasilian Duos” foi incluído na lista anual dos melhores CDS de jazz do jornal “The New York Times”, além de ter recebido indicação para o prêmio Grammy, na categoria Melhor álbum Vocal de Jazz e por último temos Oscar Castro Neves, outro exemplo de guitarrista excepcional que, em 1982, fixou residência em Los Angeles, onde compõe músicas para as emissoras de televisão NBC e KVEA (canal 52), atuando como arranjador e produtor musical de discos e orquestrador em filmes de Hollywood.
Há outras personalidades que poderiam estar arroladas nesta lista, tais como Tania Maria, Airto Moreira e outros artistas que são extremamente respeitados em terras estrangeiras, como Joyce, Rosa Passos, Leny Andrade, etc, mas para que esse artigo não seja muito longo, fiquemos apenas com estas.
Todos estes talentosos músicos que foram mencionados são brasileiros, mas ousaram em consolidar suas carreiras em terras estranhas, a fim de não caírem no conformismo exigido pela maioria das nossas gravadoras que preferem explorar as futilidades e seus modismos. Eles tiveram a chance de mostrar ao mundo que somos formadores de gênios, que temos um país artisticamente rico, mas infelizmente, de pouco reconhecimento por parte da nossa gente.

CHAFURDANDO NA LAMA

São extremamente preocupantes as manifestações acerca das ondas do consumismo, suas banalidades febris, modismos e afins.
No final do século XIX e começo do século XX, as rodas de choro foram responsáveis pela consistência da nossa cultura, com destaque para os artistas João Pernambuco e Ernesto Nazareth, sendo vitais para a formação da linguagem do gênero. Nos anos 20 e 30, além da Semana de Arte Moderna que foi uma enorme contribuição literária, surgiram outros destaques como Heitor Villa Lobos e Pixinguinha. Já nos anos 30, 40 e 50 a cultura musical continuou agregando valores à história brasileira, aparecendo nomes importantes como Carmem Miranda, Severino Araújo, Waldir Azevedo, Jacob do Bandolim, Radamés Gnattali, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Herivelton Martins, Nelson Gonçalves, Dalva de Oliveira, Elizeth Cardoso, Noel Rosa, Cartola, Ary Barroso e tantas outras personalidades que preservaram o compromisso com a arte. Em 1958, Tom Jobim e Vinícius de Moraes, com a canção “Chega de saudade”, interpretada por João Gilberto foi outro marco considerável, revolucionando não só o Brasil, mas fazendo com que nossa arte fosse conhecida e aplaudida em todo o mundo. Era o início da Bossa Nova. Outros artistas continuaram a desempenhar um papel importante para fortalecer nossa cultura: Carlos Lyra, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli, João Donato, Marcos Valle e Johnny Alf, por exemplo. Nos anos 60 e 70, surgiram mais dois movimentos artísticos, o tropicalismo e a jovem guarda, com destaque para Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Roberto Carlos, Erasmo Carlos e outros, além de vários outros nomes que continuam labutando para preservar a riqueza da nossa música, tais como João Bosco, Djavan, Chico Buarque, Ivan Lins, Edu Lobo, Francis Hime, etc. Nos anos 80 o rock nacional também deu sua parcela de contribuição, surgindo bandas como Titãs, Ultraje a rigor, Paralamas do sucesso, Barão Vermelho, Legião Urbana e outros.
Durante todo esse trajeto sempre ouve um processo de “reciclagem” da cultura, uma substituição natural de valores, conforme alguns deixavam de existir outros do mesmo peso ideológico surgiam e continuavam a caminhada artística, mas dos anos 90 pra cá as coisas foram descambando para um abismo que parece nunca chegar ao fim. A cada dia uma nova idiotice e a mídia não para de dar corda a esses movimentos que embrutecem as pessoas com sua “Pérolas”: Lacraia, égua pocotó, descendo na boca da garrafa, quem vai querer a minha periquita, créu e outras ondas estúpidas. Agora tem a nova sensação do momento, a dança do cartão (o bumbum que pisca). Trata-se de uma dança sensual, fruto dos pancadões funkeiros, em que a moça se requebra e literalmente vira a bunda para plateia e começa a contraí-la freneticamente, enquanto um deles apodera-se de um cartão magnético e o passa entre as brechas das nádegas. A galera delira. A mídia aplaude. O “dindin” cai na conta gorda dos artistas, se é que podemos chamá-los assim e o povo respira com dificuldade, apenas com a cabeça de fora do lamaçal. Com mais um pouco de criatividade e essa gente atola de vez.

terça-feira, 18 de maio de 2010

SIMPLESMENTE HUMANO

O violonista, compositor, arranjador e cantor João Alexandre, um dos ícones da cultura gospel de qualidade, com todo seu estilo requintado, traz uma realidade evidente na canção “Quem sou eu”. Leia o texto abaixo e depois aceite meu convite, caro leitor, para fazermos uma breve reflexão sobre a efemeridade da vida:

Foi Sua voz que fez nascer toda a luz
Foi Sua mão que pôs estrelas nos céus
Seu nome é Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte,
Príncipe da Paz, Pai de toda Eternidade

Foi Seu olhar que a tantos trouxe o perdão
Foram seus pés que andaram por cima do mar
Ele abriu mão de Sua glória; desceu do céu pra mudar
Toda a história para sempre

Quem sou eu pra não ver?
Quem sou eu pra não crer?
Quem sou eu pra detê-lo em meus limites?
Quem sou eu pra mudar?
Quem sou eu pra fugir?
Quem sou eu? Diante dEle quem sou eu?

Todo o sofrer Ele tomou sobre si
E a nossa paz com sua morte comprou.
Foram feridas e dores que nos trouxeram a vida;
Plena vida; vida sem fim.

O Seu querer sempre há de ser o melhor.
Meu coração sempre há de ser seu lugar.
Sua palavra ilumina e dirige todos os meus passos.
O seu nome é Deus; poderoso Deus.

A humanidade insiste em querer assumir as rédeas da vida, manipular e realizar seus sonhos numa atitude extremamente egocêntrica e desenfreada, como se pudesse controlar todos os limites de seu curto espaço de tempo sobre esta terra, enquanto isso, ela vai escapando como a areia entre os dedos.
Por carregar, em seu caráter espiritual, a essência da eternidade divina, projetada por Ele no início da criação, o homem esquece que com a sua desobediência sobreveio o pecado e, consequentemente, a morte. Portanto, essa etapa é denominada de peregrinação e durante essa caminhada é de suma importância reconhecer nossa estrutura frágil e debilitada, deixando o mastro por conta de quem conhece realmente o caminho de volta para casa, a fim de que o navio chegue totalmente seguro.
Avançar esse percurso por conta própria é navegar na tempestade, andar numa corda estendida sobre o abismo. Sábio mesmo é deixar todo o controle nas mãos de Deus e fazer como o Rei Davi que orientou seu filho Salomão, conforme menciona o livro de I Reis, capítulo 2, dos versículos 1 ao 3: “Quando se aproximava o dia de sua morte, Davi deu instruções ao seu filho Salomão: "Estou para seguir o caminho de toda a terra. Por isso, seja forte e seja homem. Obedeça ao que o SENHOR, o seu Deus, exige: ande nos seus caminhos e obedeça aos seus decretos, aos seus mandamentos, às suas ordenanças e aos seus testemunhos, conforme se acham escritos na Lei de Moisés; assim você prosperará em tudo o que fizer e por onde quer que for.” É a sua graça que nos sustenta, nada mais que isso.
Veja que Davi fez questão de lembrá-lo: “Seja homem”, ou seja, reconheça suas limitações, não queira ser um super herói, nem tão pouco depositar a confiança no próprio esforço.
Pense nisso, entregue-se a Jesus Cristo, deixe-o conduzir esta viagem. Ele já andou sobre o mar e tem o controle sobre a fúria dos ventos.

NÃO SAIA DO BARCO

Há uma história bíblica presente no evangelho de Mateus, capítulo 8, entre os versículos 24 e 27 que traz uma lição de vida para os dias atuais, momento digno de reflexão: “E, entrando ele no barco, seus discípulos o seguiram. E eis que se levantou no mar tão grande tempestade que o barco era coberto pelas ondas; ele, porém, estava dormindo. Os discípulos, pois, aproximando-se, o despertaram, dizendo: Salva-nos, Senhor, que estamos perecendo. Ele lhes respondeu: Por que temeis, homens de pouca fé? Então, levantando-se repreendeu os ventos e o mar, e seguiu-se grande bonança. E aqueles homens se maravilharam, dizendo: Que homem é este, que até os ventos e o mar lhe obedecem?
Assim é a atitude da humanidade diante das ondas volumosas que tentam afogar os tripulantes tomados pelo desespero, pois a consciência frágil esquece da presença gloriosa de Jesus. Em alguns casos, a vontade é de abandonar a embarcação e tentar nadar freneticamente à procura de uma ilha de descanso, pensando ter vencido o problema, deixando-o para trás, fugindo da realidade trágica que precisa ser encarada.
O certo é que Jesus está ali e os ventos lhe obedecem, a fúria do mar torna-se em um lago manso e sereno e a calmaria volta a reinar, mas para que isso aconteça é necessário permanecer em alto mar, navegando sobre a situação caótica, para que a contemplação do milagre seja presenciada dentro do próprio barco, pois dentro dele temos onde escorar e o assento, mesmo que encharcado, ainda permanece como plataforma e suas laterais ainda servem de apoio para os braços trêmulos. A fúria das águas parecem não ter limites, mas não podem despertar o sono daquele que tem o domínio absoluto sobre a força da natureza, mas infelizmente seu momento de descanso é interrompido pela falta de fé dos demais companheiros de viagem. O desespero deveria ter sido substituído pela confiança convicta de que era momento também de dormir e descansar, enquanto o barulho ensurdecedor das ondas seriam ouvidas como gotas de orvalho que caem de forma pacífica sobre as ervas do campo.
Ao despertarem, restaria uma vaga lembrança de terem sonhado com algo assustador, mas não poderiam definir com precisão o pesadelo, sabiam apenas que agora estavam diante do cenário encantador e convidativo das águas que o chamavam para um momento de pesca, enquanto as gaivotas sobrevoavam suas cabeças. Então, cada um pegaria seus apetrechos e arremessariam seus anzóis. Depois de algum tempo sentiriam a falta do principal tripulante: JESUS. Ao procurá-lo o avistariam do outro lado, em terra firme, que de longe acenava, dizendo:
- Podem vir, encontrei um lugar seguro para vocês.
Um dos navegantes perguntaria:
- Como o Senhor foi parar aí, por acaso as ondas o arremessaram?
Ele abriria um sorriso e responderia:
- Não, simplesmente enquanto vocês descansavam resolvi andar por sobre as águas.

APOSENTANDO AS GARRUNCHAS

A vida possui rédeas que não podem ser controladas pelos pulsos da humanidade, mas as pessoas insistem em querer dominá-las e com isso acabam descambando para as águas profundas e turvas da insatisfação.
As solicitudes da vida têm sido motivo de muita preocupação e isso faz com que o tempo não seja aproveitado em toda sua plenitude, pelo contrário, a força da ansiosidade toma proporções assustadoras e rouba a tão almejada paz. Isso pode ser comprovado no Evangelho de Mateus, capítulo 6, versículo 27: “E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura?”
Apesar de toda a modernidade evidente no século XXI, o perfil deste mundo pode ser comparado aos cenários do velho oeste, onde forasteiros armados até os dentes atiram a esmo. Munições voam para todos os lados e acertam alvos inapropriados. Enquanto esses feixes cruzam os céus, Deus apenas balança a cabeça, numa atitude de reprovação, perguntando pra si mesmo (como se já não soubesse a resposta): “Porque atiram tanto?” Será que Ele não se preocupa com tantas rajadas no ar, com tanta gente tombando sobre a terra fria? É claro, que sim, mas as armas precisam estar no coldre, descarregadas e enquanto isso não acontece, Ele apenas espera o momento certo de mostrar a toda essa gente afobada que no desespero não se pode alvejar a presa certa. Jesus é o verdadeiro atirador de elite, sua pontaria é precisa e Ele quer acertar em cheio teus sonhos tão almejados.
Qual tem sido seu alvo? Carro, casa, emprego, casamento, vida profissional? Saiba que todas essas coisas são importantes, mas perecíveis. Assim mencionam os versículos 31, 32 e 33 do mesmo capítulo de Mateus: “Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou: com que nos vestiremos? Porque os gentios são que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas; buscai, pois em primeiro lugar o seu reino e a sua justiça e todas estais coisas vos serão acrescentadas“.
Os que Esperam no Senhor possuem a arma certa: a fé. Aposente as garrunchas, deixe-as guardadas até o momento certo em que Deus pegará o seu dedo e fará apertar o gatilho, então seus mais recônditos desejos serão atingidos e cairão à sua frente como presas gordas. Assim, como um bravo caçador você as colocará sobre os ombros e as levará para se fartar em sua casa.

CAINDO NA REDE CERTA

Na obra “Grande Sertão: Veredas”, do genial contista e romancista, Guimarães Rosa, há uma afirmativa interessante, passível de reflexão: “Viver é muito perigoso... Porque aprender a viver é que é o viver mesmo... Travessia perigosa, mas é a da vida. Sertão que se alteia e abaixa...”. Tendo a vida como base para uma análise contemplativa, assim também mencionou o compositor Belchior: “Viver é melhor que sonhar”.
Pode-se ir mais além, tendo o mesmo tema como modelo, tomando como parâmetro o mundo pós-moderno, globo desenfreado de ilusões, um campo de batalha sangrenta, uma luta árdua pela sobrevivência, na tentativa de se achar um lugar ao sol. O capitalismo vem tomando proporções gigantescas e tem consumido valores imprescindíveis para se alcançar a vitória em meio ao caos. Vive-se uma fase da história em que os padrões éticos e morais estão extremamente escassos, pois o que realmente importa é o sucesso a todo custo. Isso tem gerado inúmeras insatisfações e quedas desastrosas, uma vez que a confiança tem sido depositada em coisas fungíveis, descartáveis, efêmeras. As pessoas têm trabalhado exaustivamente mais e colhido menos, pois nessa luta os rifles desfocados apontam para alvos perecíveis.
Pode-se imaginar a vida como um grande circo, onde a única atração é o equilibrismo. A humanidade caminha por um tablado que se estende de uma extremidade à outra, ligando as colunas que sustentam o espetáculo. Lá em baixo, uma diversidade de redes serve de apoio para a queda que por ventura venha a ocorrer durante a travessia (e não são poucas). Umas despencam sua confiança no dinheiro, já outras caminham cegas, confiantes no casamento; por sua vez, outros trilham convictos de que a rede de suas potencialidades culturais e profissionais servirão de apoio, mas o certo é que a qualquer momento podem se despedaçar quando atingirem em cheio o chão frio da morte.
A verdadeira rede é Jesus, material amealhado e confeccionado com linhas de sangue puro derramado na cruz do calvário por toda a humanidade. Ela não se rompe e suporta todos os baques. Quando a confiança está nessa realidade, algo diferente acontece: lá em cima, o percurso torna-se mais ameaçador, pois agora os pés passam a pisar em um fio estreito, com uma diferença brutal: do outro lado, Jesus Cristo, com seus braços estendidos, diz: “Pode vir, sou Eu, não tema”. Assim é o papel da fé, instigar o equilibrista a pisar firme e continuar trilhando até a sua chegada triunfal. Porém, boa parte das pessoas sente o vento pesar sobre os ombros querendo lhe arremessar ao solo; outros começam a olhar para baixo e são tomados pelo pavor das alturas. A queda pode ser inevitável, mas a chegada é certa, pois durante esse trajeto, o Todo Poderoso está lá em baixo, o verdadeiro suporte, com os braços prontos a socorrer. Ele faz levantar o caído e o põe de volta nas alturas.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A VERDADEIRA DECLARAÇÃO DE AMOR

O sentimento de amor tem sido um elemento constante nas diversas formas artísticas e se revelado ao longo da história, deixando seu rastro de encanto e magia.
Na literatura, por exemplo, Vinícius de Moraes foi um dos poetas que mais declararam seu amor pela beleza feminina. Pode-se notá-lo nos versos do soneto do amor total: “Eu te amo tanto, meu amor, não cante o humano coração com mais verdade, amo-te enfim com grande liberdade, dentro da eternidade e a cada instante.” A escritora Marina Colassanti, no texto, Amor com A maiúsculo, desembainha seus dotes: “Mas existe mesmo esse amor, tão total, tão avassalador, tão completo? Ou nós o inventamos, instituindo talvez a exceção como regra?”. Já o mineiro Carlos Drummond de Andrade também revela sua contribuição cultural galgando os passos de tão nobre sentimento: “O mundo é grande e cabe nesta janela sobre o mar; o mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar; o amor é grande e cabe no breve espaço de beijar.”
Na música não é diferente, os artistas embrenharam-se no mesmo enredo afetivo e trouxeram pérolas contemplativas. É o caso do compositor Jorge Vercilo que atropela o coração humano com os seguintes versos: “Claro, ninguém jamais nos ensinou a saber quando é amor, mas foi você chegar pra eu descobrir.” E ainda declara “Flor, minha vida está despetalada sem seu amor e parece que nada vai mudar, chuva que cai sem parar, deixa no canto do peito esse gosto de dor. Vem, que eu guardei o meu tempo de vida pra mais ninguém, seja fogo de palha ou seja amor, seja do jeito que for, só de pensar em você já me faz tanto bem.” Chico Buarque também enveredou pelos mesmos caminhos, pisando de forma sutil nesse terreno: “Não se afobe não que nada é pra já, o amor não tem pressa, ele pode esperar em silêncio, num fundo de armário, na posta restante, milênios, milênios no ar.” Djavan foi outro artista que resolveu percorrer o mesmo trajeto, em busca de entender essa força bruta que arrebenta o coração como ondas que se quebram sobre as rochas: “O teu beijo eu invento na sala escura do sentimento, quando bate a dor, eu sei que o amor existe, e onde vive que eu chamo e não vem?” Gilberto Gil é outro exemplo de poeta musical que busca compreender esse alimento humano incompreensivo: “O amor da gente é como um grão, uma semente de ilusão, tem que morrer pra germinar”.
Na pintura, a mesma emoção toma conta das telas de alguns mestres franceses impressionistas: Gauguin, Monet, Renoir e Van Gogh. Suas obras ganham vida e quase saltam da moldura, como se quisessem arrebentar nossas retinas, delineando com cores vibrantes o tão insondável amor.
Todas essas manifestações são apenas protótipos efêmeros, não conseguem expressar com exatidão a verdadeira fonte, pois seu nascedouro está no momento da criação do universo e do homem, ali sim, houve a grande obra de arte, manifestada pelo poder absoluto de Deus, o detentor de tal palavra em sua mais perfeita definição. Frutos de suas mãos, as estrelas, os astros, o sol, a chuva, a terra, a natureza, os animais e a humanidade, foram as maiores declarações de amor já vistas até hoje. Como se tudo isso ainda não bastasse, depois da transgressão e o surgimento do pecado original, antes da fundação do mundo, o Senhor Criador de todas as coisas, arquitetou um plano perfeito de salvação, de resgate, dando-nos sua maior prova de bondade: seu filho Jesus Cristo. Em I Coríntios 13, do versículo 4 ao 8, pode-se notar essa gloriosa atitude incompreensiva: “O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se ensoberbece, não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal; não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba”.
Essa intensidade só pode ser presenciada na plenitude de Jesus, embora muitos artistas já tenham se manifestado a respeito, mas não houve nem haverá maior expressão de amor do que esta atitude. Um amor que não espera nada em troca, a não ser um simples reconhecimento e aceitação, mas uma postura que independe da nossa reciprocidade. Ele simplesmente resolveu nos amar e pronto. Essa declaração ficou registrada na cruz do calvário, onde nosso amado Jesus se entregou para salvar toda a humanidade. Lá, entre todos os sofrimentos físicos e a dor implacável por carregar nossos pecados, Ele exalou Sua maravilhosa graça, entregando-se por inteiro. Assim declara Isaías, no capítulo 53, versículo 7: "Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca".
Nossa capacidade intelectual limitada e miserável não é capaz de entender tão grande manifestação de misericórdia, uma atitude que constrange e envergonha nossas vidas enraigadas de pecado. Portanto, caríssimo leitor, apenas renda-se a esse amor, caia nas teias da bondade e venha para os braços do Pai. Eles estão sempre abertos para lhe acolher.

O SOFRIMENTO PRODUZ BONS FRUTOS

Analisando alguns mestres da literatura universal, bem como outros intelectuais de diversas áreas ligadas à produção artística, pude compreender que a dor é um elemento fundamental para a motivação, ela propicia um estágio criativo, fazendo trabalhar a mola propulsora que lateja no coração daquele que carrega em suas entranhas o dom natural da produção, um presente de Deus para alguns dos escolhidos.
Durante o século XIX, os poetas da fase denominada mal-do-século, período romântico que era liderado por escritores conceituados, tais como Álvares de Azevedo, Fagundes Varela e Casimiro de Abreu, realizaram suas principais produções literárias nos momentos de extremo sofrimento. Os modernistas Vinícius de Moraes, Manuel Bandeira, Mário de Andrade e Clarice Lispector, por exemplo, também foram artistas que realizaram grandes feitos literários nos momentos de rígida escassez.
O gosto pela música, o apetite pela cultura artística são elementos que me acompanham desde tenra idade. Esse universo sempre me causou um fascínio inexplicável, então, conforme ia crescendo, explodiam dentro do meu peito, fazendo com que essa busca tornasse uma necessidade primordial para manter-me vivo, porém esqueci-me de alimentar outro mundo que pulsa dentro de cada um dos seres humanos: o espiritual. Esse também é regado pela dor e seu duro aprendizado acontece meio ao deserto.
Toda humanidade geme como mulheres na hora do parto, carregando um vazio que só pode ser preenchido pela presença gloriosa de Jesus Cristo. Infelizmente, Sua presença extraordinária na maioria das vezes só é reconhecida nos períodos áridos, nos momentos que somos tomados pela consciência de quem realmente somos: pó da terra, nada mais que isso, pobres miseráveis que pensam ser algo a mais quando estão vivendo bons períodos, na ilusão de confiar em sua capacidade e na força do próprio braço, mas quando acordamos para a realidade, notamos nossa insignificância e então passamos a alimentar nosso espírito desnutrido.
No deserto todos os sentidos são despertados e a voz de Deus passa a ecoar verberizando seu amor dentro do nosso sedento coração. As escamas dos olhos caem, a cera dos ouvidos é removida e então passamos a ouvir sua doce voz chamando-nos de filho. Nesse terreno seco nos gloriamos nas próprias tribulações, pois assim menciona a palavra de Deus em Romanos 5, versículos 3 e 4: “Sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança. No livro de Jó, capítulo 5, versículos 17 e 18 há uma outra realidade que deve ser observada: “Bem aventurado é o homem a quem Deus disciplina; não desprezes, pois, a disciplina do Todo-Poderoso. Porque Ele faz a ferida e Ele mesmo a ata; Ele fere, e suas mãos curam.”
O sofrimento não só desperta os talentos adormecidos em termos culturais, fazendo aflorar todo potencial criativo, como também é uma espécie de passaporte que encaminha para a verdadeira felicidade, aquela que está junto a Cristo, nosso Senhor e Salvador, fazendo-nos frágeis nesses momentos para nos tornar fortes. Esse dilema paradoxal é uma gloriosa verdade.